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“O Fariseu e o Publicano” — por Pe. Anderson Messina Perini

Pe. Anderson Messina reflete sobre a parábola do Fariseu e do Publicano e o verdadeiro espírito da oração.

Por: Redação Fonte: Garça em Foco
23/10/2025 às 08h08
“O Fariseu e o Publicano” — por Pe. Anderson Messina Perini

A Liturgia da Palavra deste 30º Domingo Comum, nos convida a refletir sobre o espírito de nossa oração. No domingo passado, refletimos sobre a necessidade da Oração Perseverante. É um apelo muito atual ao ser humano moderno, tão ocupado e preocupado com tantas coisas, que quase não sobra tempo para si mesmo. E o tempo que sobra gasta nas mídias sociais, internet, televisão ou outras diversões. Mas não basta rezar, precisa rezar bem. E qual é o espírito que deve animar a nossa oração para que seja agradável a Deus e proveitosa para nós? As leituras da Liturgia de hoje nos dão uma resposta.
Na Primeira Leitura (Eclo 35,15a-17.20-22a), Deus afirma que escuta a súplica dos Humildes: “A prece do humilde atravessa as nuvens” (v.21). A nossa oração só tem valor e é acolhida por Deus, quando parte de um coração pobre, humilde e justo e é solidária com todos os oprimidos e empobrecidos.
Este trecho faz um elogio à justiça de Deus que “não faz discriminação de pessoas. Ele não é parcial em prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos” (v.15-16). Aliás, ele ouve a oração dos indefesos, do órfão e da viúva. É um elogio a oração do humilde, consciente de sua pequenez, da necessidade do auxílio de Deus e de sua salvação. Eis a prece que atravessa as nuvens e alcança a justiça e a graça.
Na Segunda Leitura (2Tm 4,6-8.16-18), Paulo, velho, preso, condenado à morte, medita e reza sobre a sua Vida: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (v.7). É o testamento de alguém que está com a consciência do dever cumprido e aguarda com humildade e confiança a recompensa de Deus. Nesse sentido, apesar de S. Paulo ter sido fariseu, seu espírito é diferente da parábola do Evangelho, pois ao invés de colocar-se primeiro diante dos outros, declara que Deus dará “a coroa da justiça” não só a ele, mas “a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa” (v.8). Longe de se gloriar, o Apóstolo afirma que foi sustentado e fortificado pela graça de Deus. Em vez de contar com seus méritos, confia em Deus que será salvo e lhe dá glória.
No Evangelho (Lc 18,9-14), Jesus mostra a Oração Humilde de um pecador, que se apresenta diante de Deus de mãos vazias, mas disposto a acolher o Dom de Deus. Os destinatários da Parábola do Fariseu “santo” e do Publicano “pecador” são: “alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros” (v.9). Os dois rezam no Templo: um espera a recompensa e o outro a misericórdia. O modo de rezar dos dois é bem diferente: o Fariseu pelo caminho do orgulho, e o Publicano pelo caminho da humildade.
O Fariseu reza na frente, “de pé”, satisfeito pelo que é e pelo que faz. Sua oração é longa: é uma arrogante exaltação de si. Agradece a Deus por não ser como os demais, nos quais só vê erros e pecados. É autossuficiente: não precisa de Deus e despreza os irmãos. A sua Salvação não é dom de Deus, mas conquista de suas “boas obras”.
O Publicano reza no fundo, de cabeça baixa, batendo no peito. Reconhece com humildade a soberania de Deus e a própria pequenez. Ele precisa de Deus e aceita a salvação que Deus lhe oferece. Sua oração é breve, resume-se em pedir perdão: “Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!” (v.13)
À primeira vista, daria a impressão de que o fariseu era mau e o publicano bom. No entanto, o fariseu era “bom praticante” e o publicano praticava injustiças. Mas, quem se comportava bem foi condenado e o pecador voltou justificado. O fariseu ofereceu suas obras, o publicano sua miséria e seus pecados. E Jesus conclui: “Pois quem se eleva será humilhado, e quem se humilha será elevado” (v.14).
A Parábola nos fala de dois tipos de Pessoas. O Fariseu é modelo da pessoa “justa”, cumpridor de todas as leis, que leva uma vida impecável. Ninguém o pode acusar de ações contra Deus, nem contra os irmãos. Está contente por não ser como os outros. Vai à missa ou ao culto todos os domingos, paga o dízimo, confessa de vez em quando. Mas na confissão “não tem pecados”. Só tem boas obras a declarar. Na Oração, ao invés de louvar a Deus, louva-se a si mesmo e despreza o pecador. Umas práticas religiosas bem observadas lhe dão a segurança da salvação. Cristo, ao contrário, quer uma religião em espírito e verdade, com o mandamento do amor. E o fariseu a reduz a umas obrigações, para estar em dia com Deus. O Publicano é modelo da pessoa humilde, que se reconhece pecador. Sente necessidade de Deus, confia nele e lhe oferece seu pobre coração abatido. Aceita com humildade os meios da Confissão, da Missa e da Comunhão. Não se considera melhor do que os outros, nem os julga.
Na vivência cristã atual existe os novos Fariseus. O farisaísmo é uma atitude religiosa que nos impede de ver-nos como somos e deturpa nossa relação com Deus e com os irmãos. Ninguém está isento da contaminação dessa perene soberba humana.  Os Publicanos são todos aqueles que tomam consciência de seus erros e pedem perdão. Quais são os sentimentos que animam o nosso coração na oração? A do Fariseu ou a do Publicano? Como pretendemos voltar para casa depois dessa pregação? Será que muitas vezes não imitamos a posição de suficiência do fariseu? Ao invés de escutar Deus e suas exigências, preferimos convidá-lo a que admire a boa pessoa que somos? Não seria melhor, nos colocar ao lado do publicano, reconhecendo com humildade nossa condição de pecadores, confiando na misericórdia de Deus?
Assim, voltaremos para casa participando mais perfeitamente de sua justiça e de sua santidade. Com este espírito, continuemos a nossa oração, para que ela seja realmente agradável a Deus e proveitosa para nós.


 Pe. Anderson Messina Perini
Administrador Paroquial da Paróquia Jesus Bom Pastor de Santo André

 

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