As denúncias de importunação sexual envolvendo um psiquiatra que atendia no CAPS de Garça continuam repercutindo na cidade e em toda a região. Até o momento, quatro casos foram formalizados em Garça, e as investigações seguem em sigilo pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).
Algumas das denúncias relatam fatos ocorridos há anos, o que tem levantado questionamentos entre internautas nas redes sociais sobre o motivo de as vítimas só procurarem a polícia agora. Diante disso, o Garça em Foco procurou a delegada Renata Ono, titular da DDM de Garça, para esclarecer por que muitas mulheres demoram a denunciar situações de violência sexual.
“Muitas mulheres demoram para denunciar esse tipo de violência sexual porque esse tipo de agressão causa um impacto profundo, tanto emocional quanto psicológico. O trauma não se limita ao momento do fato — ele se prolonga pela vergonha, pelo medo e pela desconfiança no acolhimento que receberão ao relatar o ocorrido”, explicou a delegada.
Renata destacou que a vergonha é um dos principais fatores que fazem a vítima se calar.
“Frequentemente, a mulher se sente culpada, confusa ou teme ser julgada pela sociedade, pela família ou até pelas autoridades. Essa culpa indevida é reforçada por estigmas culturais antigos, que colocam em dúvida a palavra da mulher e questionam seu comportamento, suas roupas ou suas escolhas.”
A delegada também lembrou a equipe de reportagem do Garça em Foco que o medo de represálias é comum, especialmente quando o agressor é uma pessoa próxima ou em posição de autoridade — como um profissional de saúde.
“No caso específico de Garça, o médico era um profissional vinculado a um órgão assistencial, onde normalmente as pacientes não têm escolha sobre quem realizará o atendimento. Reviver o trauma em um depoimento é extremamente doloroso, e o receio de descrédito ou exposição pública pode fazer com que a vítima se cale por meses ou até anos.”
Segundo ela, o momento da denúncia costuma chegar quando a mulher se sente segura e amparada.
“Denunciar exige força, e cada mulher tem seu tempo para reconstruir essa força. O papel das instituições e da sociedade é garantir que, quando ela estiver pronta, encontre acolhimento, respeito e justiça — e nunca julgamento.”
A DDM de Garça reforça que as denúncias são sigilosas e a identidade das vítimas é totalmente preservada. Mulheres que tenham passado por situações semelhantes podem procurar a Delegacia de Defesa da Mulher, localizada na Rua Carlos Gomes, no centro da cidade, para formalizar o relato e receber o devido acolhimento.