O Garça em Foco conversou com Milton Cezar Costa Fabrício, conhecido carinhosamente como Miltinho Palmeirense, um dos principais nomes da defesa dos direitos das pessoas com deficiência em Garça. Em entrevista a Eduardo Cabrini, Miltinho relembrou sua trajetória, falou sobre avanços e desafios da inclusão, destacou seu sonho de ver Garça reconhecida como cidade símbolo em acessibilidade e revelou denúncias públicas que fez contra os três poderes pela falta de ação na área.
Eduardo Cabrini - Garça em Foco: Miltinho, quando e por que você começou a atuar na defesa dos direitos das pessoas com deficiência?
Miltinho: Eu comecei minha luta em 2007, há 18 anos, quando eu vi na televisão a palavra “acessibilidade”. Sinto que foi Deus que me escolheu para levantar essa bandeira aqui em Garça.
Eduardo Cabrini - Garça em Foco: Você já participou de conselhos municipais ou entidades ligadas à causa em Garça ou região?
Miltinho: Já participei sim. Fui Presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência de Garça e também delegado do SUS, Municipal, Regional, Estadual e Federal, em 2012. Foi uma experiência ótima.
Eduardo Cabrini - Garça em Foco: Lembro que você esteve à frente da Associação dos Deficientes de Garça (ADG). Inclusive, fizemos um bingo beneficente que marcou época. O que levou à descontinuação da ADG?
Miltinho: Eu fui um dos fundadores da ADG, que existiu por 8 anos, de 2010 a 2018. Nós fizemos várias ações aqui na cidade, inclusive o bingo beneficente que foi muito marcante na época e envolveu bastante a sociedade. Infelizmente a entidade acabou e foi encerrada por falta de apoio tanto do poder público quanto da sociedade de maneira geral.
Eduardo Cabrini - Garça em Foco: Na sua visão, Garça tem evoluído no atendimento às demandas das pessoas com deficiência? A cidade está cumprindo o que determina a lei?
Miltinho: Na minha opinião, é bem claro que não. Basta ver o que aconteceu este ano na Festa da Cerejeira. Já denunciei publicamente a negligência dos três poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário — em relação às barreiras enfrentadas por pessoas com mobilidade reduzida em Garça, e as três denúncias foram procedentes. Ainda há muito a melhorar e dependemos de vontade política para cumprir a Lei 5.296/2004 e a ABNT NBR 9050/2004.
Eduardo Cabrini - Garça em Foco: E sobre esse episódio da Festa da Cerejeira, que chegou a gerar polêmica após uma denúncia de falta de acessibilidade envolvendo uma servidora pública, como você vê esse tipo de situação?
Miltinho: Esse caso da munícipe que reclamou da falta de acessibilidade, com total razão, compete ao prefeito tomar a decisão. O pai dela falou com ele pessoalmente e, até agora, nada foi feito. Existe essa resistência e total falta de respeito em muitas situações.
Eduardo Cabrini - Garça em Foco: O que você destacaria como prioridade hoje em termos de inclusão e acessibilidade?
Miltinho: Cumprir efetivamente as leis e garantir que a cidade seja acessível para todos. A nossa vida já não é fácil naturalmente por conta das nossas limitações, com essas faltas de cumprimentos de normas e leis, além de falta de empatia e respeito com o ser humano como a gente observa constantemente, fica mais difícil ainda.
Eduardo Cabrini - Garça em Foco: Você acredita que a sociedade, em sua maioria, ainda não enxerga as pessoas com deficiência da forma que deveria?
Miltinho: Acredito que ainda falta muito respeito. É preciso mudar a forma como a sociedade enxerga as pessoas com deficiência, garantindo igualdade de direitos e oportunidades.
Eduardo Cabrini - Garça em Foco: Quais são suas maiores dificuldades no dia a dia atualmente? E qual é o seu maior sonho?
Miltinho: Minha dificuldade é caminhar em uma cidade que não é acessível. Meu sonho é ver Garça ser reconhecida como cidade símbolo em acessibilidade.