A solenidade da Dedicação da Basílica de São João de Latrão recorda a consagração do primeiro templo cristão do Ocidente, a Catedral de Roma, que tem como padroeiros São João Evangelista e São João Batista. É a catedral do Papa, como bispo de Roma, a Igreja-Mãe de todas as igrejas do mundo. Nela se realizaram cinco Concílios ecumênicos. Esta festa nos convida a tomar consciência de que a Igreja de Deus, simbolizada e representada pela Basílica de Latrão, é hoje, no meio do mundo, a “morada de Deus”, o testemunho vivo da presença de Deus na caminhada humana. As leituras bíblicas falam do Templo, no sentido material e espiritual.
Na Primeira Leitura (Ez 47,1-2.8-9.12), o Profeta Ezequiel vê sair do Templo uma Água, que gera Vida por onde passa. O Povo exilado na Babilônia, longe de Jerusalém e do seu templo destruído, é fortalecido pela esperança do surgimento de um novo templo. A Água viva, que brota do templo, simboliza a Vida nova, a salvação oferecida por Deus. É a imagem do Batismo, a água do Espírito que nos purifica, como também nos vivifica, fazendo-nos produzir toda espécie de frutos do Espírito Santo (cf. Ez. 47,12; Gl 5,22-23) e comunicando essa nova vida a todos aqueles com os quais convivemos.
Na Segunda Leitura (1Cor 3,9c-11.16-17), São Paulo afirma que nós somos Lavoura, Construção, Santuário de Deus e morada do Espírito Santo. E sob a qual foi construída sobre o alicerce, a pedra fundamental: Jesus Cristo. Por isso, animados pelo Espírito Santo, devemos ser o Sinal vivo de Deus e testemunhas da salvação diante da humanidade do nosso tempo.
No Evangelho (Jo 2,13-22), Jesus se apresenta como o Novo Templo. “Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei” (v.19). “Mas Jesus estava falando do Templo do seu corpo” (v.21). O Templo de Jerusalém, na época de Jesus, havia se transformado num grande mercado, num instrumento de exploração. Usavam o nome de Deus para obter lucro e benefícios pessoais. Jesus quer purificar o Templo, libertando-o desses exploradores. Assim entendemos o gesto violento de Cristo, de chicote na mão.
Mas Jesus quer mais: fala de um Novo Templo, que irá substituir o velho templo de Jerusalém. O Templo representava, para os judeus, a residência de Deus, o lugar onde Deus se tornava presente no meio do seu Povo. Agora Jesus é o novo Templo de Deus no mundo, porque nele Deus se fez carne e veio montar a sua tenda no meio de nós. Ao ressuscitar dos mortos o próprio Filho, o Pai o colocou como pedra fundamental do novo santuário.
Sobre este novo alicerce, pôs as pedras vivas, que são os discípulos de Cristo. E tornamo-nos essas pedras mediante o Batismo, que realiza a purificação que Jesus veio trazer e nos transforma templos vivos do Espírito Santo. Todos juntos, formamos o corpo de Cristo, o novo Templo onde Deus habita. Cristo e os membros da comunidade cristã formam em conjunto o novo santuário do qual se elevam os sacrifícios agradáveis a Deus. Já não se trata das ofertas da carne e do sangue dos cordeiros, mas das obras de amor em favor do próximo.
Como é que podemos encontrar Deus e chegar até ele? O Evangelho de hoje responde: é olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus se revela à humanidade, manifesta o seu amor, oferece a vida plena, faz-se companheiro de caminhada e aponta caminhos de salvação.
Mas os cristãos também são pedras vivas desse novo Templo onde Deus se manifesta ao mundo e vem ao encontro da humanidade para lhes oferecer a vida e a salvação. As pessoas do nosso tempo devem ver no rosto dos cristãos o rosto bondoso e terno de Deus. Devem experimentar, nos gestos de partilha, de solidariedade, de serviço, de perdão dos cristãos, a vida nova de Deus. Poderia encontrar, na preocupação dos cristãos com a justiça e com a paz, o anúncio desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os seres humanos.
Nesse novo templo, em que nós somos pedras vivas, “os verdadeiros adoradores vão adorar o Pai em espírito e verdade” (Jo 4,23). A Igreja é de fato essa “casa de Deus”, onde as pessoas podem encontrar essa proposta de libertação e de salvação, que Deus oferece a todos? E o nosso templo, o nosso Santuário, é um lugar de encontro com Deus, uma fonte de vida, para nós e para a nossa Comunidade? Se Cristo viesse hoje, que faria das igrejas (que se dizem cristãs), que se transformaram num verdadeiro comércio da fé? Deveria empunhar novamente o chicote?
As igrejas não podem ser casas de comércio. Mesmo a igreja paroquial deve ser antes de tudo uma casa de oração, que torna Deus presente no mundo pela beleza da caridade fraterna.
Pe. Anderson Messina Perini
Administrador Paroquial da Paróquia Jesus Bom Pastor de Santo André
Mestrando em Teologia PUC/SP