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A bola no gol, a chuteira no alambrado

Nesta coluna, Tico Cassola relembra uma cômica passagem que teve como personagem principal o zagueirão Claércio Lodetti, do Clube Atlético Penapolense.

27/03/2021 às 07h51
Por: Francisco Alves Neto Fonte: Da redação
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A bola no gol, a chuteira no alambrado

Nos quase 25 anos correndo atras da bola, vivenciamos grandes momentos. A maior parte foi no futebol amador, e três temporadas no futebol profissional jogando no Garça. Aí sim foi “pauleira”. A diferença entre o futebol amador e profissional é tremenda. Mesmo assim guardamos boas recordações, que dariam um bom livro. 

Como integrante de um grupo de ex-jogadores de Adamantina, dias atrás nas postagens, veio a lembrança do zagueirão Claércio Lodetti, do Clube Atlético Penapolense, quando soube do seu falecimento. Com ele tivemos um lance, ao lado do grande Osmar Silvestre, que jamais vou esquecer: um gol e uma chuteira nos alambrados. Tudo ocorreu em meados de 1977/78, num jogo entre Garça e Penapolense. Não me recordo se foi amistoso ou válido pelo campeonato. 

Naquela época todo time tinha um zagueirão, no melhor estilo “xerifão”, um líder com a jaqueta 3 que não só chegava junto, como também jogava com a braçadeira de capitão para impor respeito. Se no Garça era o Pedroso, no Marília, o Britão, no C.A. Penapolense era o Claércio. Eles eram respeitados pela arbitragem. Por exemplo. O Pedroso era conhecido e famoso no interior, a ponto dos juízes o chamarem pelo nome completo, José Pedroso. Por mais que chegava junto, era difícil ser penalizado com um cartão. No “Platzeck”, expulsão nem pensar.

Quando joguei contra a Penapolense, o Claércio já era meio “veterano”. Porte físico avantajado, comandava tudo na zaga. Praticamente gritava o jogo inteiro. Na partida em Garça, o “Azulão” ganhou de 1 a 0, na pressão. No final, escanteio, chuveirinho na área, o Pedroso veio, subiu de cabeça, foi goleiro e bola para rede. O juizão validou o gol sem pestanejar correndo para o meio de campo. 

No jogo de volta em Penápolis, o Garça vinha segurando o empate. Eu estava no banco de reservas, ao lado do Osmar Silvestre (foto), que gripado não aguentaria os 90 minutos. O Osmar passando Vick Vaporub no nariz, e um lenço de pano para descongestionar. Até que ele comentou: “o lateral direito da Penapolense, só dá carrinho estabanado. Se entrar no jogo, deixo ele no chão e cruzo para você marcar”. 

Por volta dos 30 minutos da etapa final, o técnico Juvenal Barbeiro faz duas substituições, colocando eu e o Osmar. No primeiro lance, o Osmar pegou a bola próximo da linha de fundo. O lateral veio e carrinhou. Osmar tocou a bola por cima e pulou. O lateral foi parar na pista de atletismo. Até que o Cláercio veio pronto para matar a jogada. O Osmar deu um toque no meio das pernas dele que deixou ele estático. A bola sobrou para mim na marca do pênalti, toquei fácil no canto. O Cláercio gritou “tá impedido”. O juizão falou: “Seo Claércio, negativo, é gol, bola veio da linha de fundo e validou. Aproveita e vai buscar o seu lateral que tá caído na pista, fingindo de machucado”. 

Pois bem. Jogo correndo e o Penapolense na pressão buscando o empate. O Garça vai para o ataque e fui lançado em profundidade. Peguei a bola quase em cima da risca lateral. Adivinha quem vem no meu encalço? O Claércio. Veio e “deu o bote”. Toquei a bola na frente e pulei. Só ouvi o barulho. A “pancada” acertou meu pé, e a chuteira voou e enroscou no alambrado no “Tenente Carriço”. 

Acho que no futebol de hoje, seria lance para cartão vermelho, ao menos o amarelo. Rapidamente o Claércio levanta e, antes do juizão chegar, correu, pegou a chuteira no alambrado, puxou o cadarço e o arrebentou. O juizão chegou perto do lance, eu caído com o tornozelo doendo, o Claércio falou: “o garoto aí não sabe nem amarrar a chuteira direito, por isto ela saiu do pé dele”. O juizão pegou a chuteira e o cadarço das mãos do Cláercio e deu uma dura, para eu fazer a amarração direito. Fiquei estarrecido. Pra variar não demorou muito o juizão marcou dois pênaltis, e a Penapolense virou o placar: 2 a 1. 

Eu terminei o jogo com a chuteira num pé desamarrada. O Garça não vivia um bom momento financeiro, e não tinha outra chuteira. Ou ao menos um cadarço para trocar. Após o apito final, o Claércio, educadamente cumprimentava todos os jogadores. Ao me abraçar disse: “Preciso garantir o bicho da rapaziada e o leite das crianças, por isto dou umas chegadinhas de vez em quando. Uma boa viagem de retorno para Garça, a terra do café bão”. 

Veja uma das formações do Clube Atlético Penapolense, da temporada de 1973. Em pé da esquerda para direita: Baiano, Marcos Moreira, Selmi, Marcão, Cláercio e Macarrão. Agachados: Zezo, Pingo, Jesus, Nei e Eliseu.

O Claércio começou jogando na várzea em São Paulo. No profissional defendeu o União Bandeirantes do Paraná, a Esportiva de Araçatuba, e o seu querido C.A.  Penapolense, time onde fez história e virou ídolo. Tinha um nome respeitado no futebol do interior paulista. Claércio faleceu no dia 27 de janeiro de 1991, com apenas 45 anos de idade. De outro lado, o Osmar Silvestre, se estivesse vivo, estaria com 73 anos, completados na última quinta-feira. Entretanto, faleceu muito jovem, no dia 30/10/2001, aos 52 anos de idade.

 

Wanderley “Tico” 

Cassola

 

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