Você vai concordar comigo quando eu disser que a prática leva à perfeição, certo? Tudo o que repetimos por dias, meses e até anos seguidos, acaba por ser aperfeiçoado e depois disso, fazemos aquilo sem pensar muito, quase que no automatismo, e sem dúvida alguma, essa prática nos leva à perfeição.
Um exímio profissional, escultores, pintores e artistas de todos os tipos, só alcançam esse mérito depois de muitos erros e trabalhos atirados ao lixo...
E não é só à perfeição que a prática nos conduz, ela também pode tirar nosso medo; encarar dia a dia, aquilo que nos causa insegurança e apreensão, é a fórmula básica e a terapia indicada para quem quer vencer fobias. Dizem que nesse mundo nos acostumamos com tudo, até mesmo com a morte, e existem profissões que pensamos: Como essa pessoa lida diariamente com isso?
Acostumamos com tudo, sem dúvida alguma; estresse, medo, dores, e se é fácil acostumar com o que é ruim, imagine com o que é bom, que dá prazer; daí nascem os vícios de todas as sortes...
A prática e o costume, ou vícios para resumir, também tiram de nós o discernimento – agora talvez você não concorde muito comigo – e o normal, mesmo que discutível, acaba virando algo, digamos, moral; mas não se engane, a normalidade na maioria dos casos nada tem de moralidade...
Bom, diante dessa introdução, vamos ao que interessa!
Quando eu ainda morava em Bastos, décadas atrás, um acontecimento chocou a cidade toda; um indivíduo bêbado, enterrou um facão em um desafeto e o abriu do ombro ao quadril... Chocante e inimaginável para qualquer um da maioria de nós, pessoas de bem, não é? Acontece que esse indivíduo alcoolizado, estava acostumado com essa empreitada, fazia diariamente, ele trabalhava em um açougue e trazia rotineiramente um facão na cintura, sua ferramenta de trabalho, uma terceira mão, se assim podemos comparar. Ele havia sido treinado, por anos, e assim como seriais killers que treinam em animais antes de começar com pessoas, cheguei ao ponto que queria nesse assunto.
Veio a público dias atrás, o chocante caso de um indivíduo alcoolizado que decepou as patas do seu cavalo; Ah que revoltante! Nossa, que horror! Credo! Terrível, indescritível, inimaginável e todas as interjeições e adjetivos revoltosos que pudermos pensar não seriam suficientes para a amenizar essa tristeza...
E quem pode esquecer do caso sansão? O cachorro que foi amarrado e teve suas patas decepadas, também com facão? Graças a esse lamentável episódio, temos a Lei Sansão que supostamente aplicaria com a mais rigor a Lei contra maus tratos já existente, mas diante do “Jack decepador” em questão, o que matou o cavalo, este foi liberado em seguida, nem levou o susto de passar a noite engaiolado... estranhamente, parece que há alguma diferença entre patas de cães e cavalos... Estou confusa, será por isso que pode decepar as patas dos porcos para a sua feijoada? Mais confusa ainda... E os pedaços de costelas que as vovós adoram cozinhar com batatas? Meu Deus, que confusão...
E agora vem a parte que você não vai concordar comigo, que talvez até pare de ler meu texto, mas calma, eu só estou tentando expor meu ponto de vista, siga até o final e quem sabe eu consiga trazer mais uma consciência para a Luz.
A gente se confunde fácil, e se acostuma, claro! Diante da normalidade que é adentrar um açougue e pedir para cortar pedaços pequenos, ou bem finos, na horizontal, diagonal... onde está a barreira entre o certo e o errado? Ela não existe... Enquadram como crueldade um caso como o do cavalo, cansado, desfalecido e vitimado pela atrocidade, mas e os porcos, vacas, cabritos, frangos que são cortados diariamente, acaso esses vivem no paraíso antes de voluntariamente pularem para o prato? Quem determina o que pode ou não pode? O que é necessidade e o que é crueldade?
Quem determina é a sociedade! É você que come carnes que paga pelo “intensivão” que forma os cortadores, os desmembradores, os beberrões acostumados e os civilizados insensíveis... é você que fecha os olhos para uma realidade que lhe convêm apenas para seguir com o costume de comer carnes de se debruçar sobre a urna fúnebre que é uma churrasqueira... e depois vão postar em redes sociais toda a indignação sobre o cavalo com as patas decepadas... Talvez se ele tivesse “ao molho” e em pedaço ainda mais pequenos, a reação fosse outra, talvez até houvesse risos e conversas tolas no ar...
Calma, não fique encontrando argumentos dentro da sua cabeça para rebater o que escrevi, apenas pense com calma em tudo o que expus; todos os animais, de qualquer espécie são comidos em alguma parte do mundo; vacas, porcos, cães, gatos, cavalos... inclusive o ser humano em alguns locais inexplorados desse nosso mundão de Deus, e todos são cortados em pedaços pequenos. Diante disso, sou só eu que vejo dessa forma, ou tem algo de muito errado nesse costume?
Vanderli do Carmo Rodrigues