Em novembro de 2020, acompanhado dos amigos Anderson Oliveira e Maurício Stellato, decidimos embarcar em um passeio a um local que já queríamos conhecer há tempos: a Fazenda Ipanema. Localizada em Iperó, no interior de São Paulo, este é um destino que mistura natureza, cultura, além de uma rica imersão na história do Brasil. Eu e o Maurício saímos bem cedo, pegamos a Rodovia Castello Branco, vindos da capital paulista sentido interior, e nos encontramos com o Anderson, que saiu de Morungaba, em um posto de gasolina na estrada, onde tomamos nosso café da manhã. A estrada estava tranquila, e a companhia dos amigos ajudou a tornar o trajeto mais prazeroso. Após pouco mais de 130 km, chegamos à cidade de Iperó, um pequeno município com quase 35 mil habitantes.
A Fazenda Ipanema está situada a cerca de 12 km do centro de Iperó, por estrada de terra, e dentro da área da Floresta Nacional de Ipanema, onde já era possível perceber algumas mudanças na paisagem, o verde vivo da mata e o canto de variados pássaros. Na época, o valor da entrada estava R$15,00 por pessoa, sendo que o estacionamento de motos e autos era gratuito.
A Fazenda Ipanema é considerada o berço da siderurgia no Brasil. Sua história remonta ao século XVI, quando foi fundada. No entanto, somente a partir de 1810, durante o reinado de Dom João VI, que o local ganhou importância estratégica. Ali foi instalada a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, a primeira siderúrgica do Brasil, com tecnologia trazida da Europa, cujo objetivo era produzir ferro para o Reino de Portugal, diminuindo sua dependência de importações. Operando com altos-fornos e utilizando carvão vegetal produzido no próprio local, a fábrica funcionou por décadas, marcando o início da industrialização no Brasil. Muitas das estruturas da época ainda estão de pé, podendo ser visitadas.
Nas fotos, reparem na espessura das paredes de pedra. Achei interessante um relógio de sol que estava em um gramado, estrategicamente montado em lugar aberto e sem sombras. Como curiosidade, um trator bateu na estrutura desse relógio e a deslocou, provocando um atraso de 15 minutos sobre sua superfície graduada. Ao meio dia exato, o relógio apontava perfeitamente 11h45. Também estão expostas duas pequenas e interessantes locomotivas de época, movidas a vapor.
A fazenda teve seu nome por conta do rio Ipanema, que atravessa a propriedade. Posteriormente, a famosa praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, foi assim batizada inspirada naquele lugar.
Passear ali é uma viagem no tempo! A área é muito grande e conta com algumas ruínas históricas, mas, em maioria, edificações conservadas, e até um antigo cemitério de operários.
O principal ponto turístico da fazenda é, sem dúvidas, a arquitetura da siderúrgica, que impressiona pela engenharia utilizada na época. Chama atenção a importância histórica do lugar, através da antiga Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema. A estrutura conta com algumas ruínas de fornos de ferro, mas também de chaminés de tijolo maciço, galpões de pedra, tudo preservado ou restaurado. Infelizmente, a escravidão foi uma realidade na fazenda, com os escravizados trabalhando em diversas atividades, desde as construções até a produção de ferro. Nas fotos nota-se que em alguns prédios haviam celas, que eram destinadas a quem quebrasse as regras estipuladas pela administração. Outro fato a ser destacado é que ali funcionou a primeira fábrica de armas brancas do Brasil, tornando-se um local importante e decisivo para a fabricação de armas usadas pelo Império brasileiro durante a Guerra do Paraguai.
A fazenda também possui um grande lago, que antigamente servia como reservatório para o funcionamento da siderúrgica
Em vários pontos da fazenda, peças antigas de ferro, ferramentas e partes de máquinas estão expostas, como um verdadeiro museu ao ar livre.
Já de tardezinha, colocamos as motos de volta a estrada e retornamos para as nossas casas com mais conhecimento e muito respeito ao passado de todos os que participaram de mais esse importante capitulo da história do nosso País. Pois a ida à Fazenda Ipanema, além de uma agradável visitação àquele ponto turístico, nos proporcionou ainda um proveitoso mergulho cultural e patriótico.
