Quinta, 17 de Julho de 2025
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“A Morada de Deus com a humanidade” — por Pe. Anderson Messina Perini

Pe. Anderson Messina Perini: Administrador Paroquial da Paróquia Jesus Bom Pastor de Santo André

Por: Francisco Alves Neto Fonte: da redação
26/05/2025 às 07h37 Atualizada em 28/05/2025 às 13h57
“A Morada de Deus com a humanidade” — por Pe. Anderson Messina Perini

Estamos no último domingo antes da Ascensão, que encerra a presença humana de Cristo na terra. O anúncio dessa separação provoca tristeza aos apóstolos. Cristo lhes garante que não os deixará sós, pelo contrário, continuará presente, embora de outra forma. A comunidade, que ama, torna-se uma Morada de Deus.
Na Primeira Leitura (At 15,1-2.22-29), vemos a sua presença através do Espírito Santo, que conduz a Igreja no primeiro grande conflito. Com a entrada dos pagãos ao cristianismo, surge uma questão polêmica: Deve-se impor também a eles a Lei de Moisés? Precisa ser hebreu para se tornar cristão? A Salvação vem pela “circuncisão” e pela observância da Lei e tradições judaica ou única e exclusivamente por Cristo?
Diante disso, os apóstolos reagem com discernimento. Reúnem-se em assembleia em Jerusalém e, dóceis à vontade do Espírito, mandam uma carta apresentando a solução do problema: “Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis” (v.28). Não são importantes aos pagãos as obrigações da circuncisão e da lei mosaica. Essa decisão, conhecida como o Concílio de Jerusalém, teve uma importância decisiva para a História do cristianismo.
É o caminho da Igreja de Cristo ainda hoje para enfrentar os desafios do mundo. Animada pelo Espírito, deve saber discernir, preservando o essencial e atualizando constantemente acessório, de forma que a mensagem de Jesus possa ser acolhida por todos os povos. Ter consciência da presença do Espírito Santo na Igreja de Cristo. E como os apóstolos, escutá-lo, na Oração e na Discussão. Este é o espírito e o entendimento de ser uma Igreja Sinodal.
A Segunda Leitura (Ap 21,10-14.22-24) faz uma linda descrição da Morada de Deus, a nova Jerusalém, onde viveremos a vida definitiva no seio da Trindade. Um detalhe importante dessa descrição é o distintivo da universalidade. Ela é uma cidade quadrada, com três portas de cada lado, revestido de pedras preciosas. Quatro lados simboliza a universalidade, doze portas a totalidade, revestida de pedras preciosas, pois é a Morada de Deus, revestida com os dons do Espírito Santo. Assim, a Igreja descrita demonstra o desejo de Deus que quer a salvação de todos e que a Igreja deve ser morada onde acolhe a todos para salvação. Nela Deus se faz presente e a revestiu com a plenitude dos dons do Espírito Santo.
O Evangelho (Jo 14,23-29) apresenta o final do discurso da despedida. Cristo promete aos seus discípulos enviar o Espírito Santo: “ele vos ensinará tudo
e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (v.26b). E virá morar no coração de cada ser humano com o Pai: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (v.23).
Cristo confirma sua presença na sua Igreja. É uma nova presença de Jesus. O mesmo Espírito que conduziu Jesus, agora conduz os seus discípulos. Com o Pai fará morada em todos aqueles que o amam. A presença corporal de Jesus é substituída pela presença espiritual, interior.
Somos chamados a ser a Morada de Deus. Que alegria saber que a Santíssima Trindade habita em nossa pobreza. E que o que ele nos pede, é algo que podemos dar, o nosso amor. Entre os pagãos, Deus era um ser longínquo, vingativo. Em Israel, o Povo adorava um Deus mais próximo: o “Emanuel”, Deus conosco, a Arca da Aliança, a Tenda. “Porei minha casa bem no meio de vós, e o meu coração nunca mais vos deixará” (Lev 26,11). No tempo de Jesus, a Morada de Deus era o Templo de Jerusalém. Para Cristo, a Morada de Deus pode ser o coração de todo cristão: “O Pai e Eu faremos nele Morada”. Com a Samaritana, fala dos adoradores em “Espírito e Verdade”. Os verdadeiros adoradores do Pai não precisam de uma Igreja de luxo. Deus poderá ser adorado na igreja do coração de todo cristão.
A Morada de Deus na pessoa, que escuta a Palavra de Jesus, cria uma nova relação entre Deus e a pessoa humana. No culto da nova aliança, mais que em templos materiais e em altares de pedra, Deus habita de forma íntima e profunda na comunidade de fé e em cada um de seus membros. Mora em quem ama a Cristo mediante a escuta e a prática de sua Palavra. A pessoa humana é o templo da presença de Deus. Cada cristão, que assume o projeto de Deus, é a Morada, onde Deus se encontra e se manifesta ao mundo.
Outro dom que Jesus comunica é a Paz: “Deixo-vos a Paz”. A Paz que Jesus comunica não é deste mundo provocada por guerras, conflitos e armas. No tempo de Jesus a Pax Romana era a paz forçadas pelas armas. O jargão das nações ainda é “se queres a paz, prepare a guerra”. Mas a paz verdadeira, trazida por Jesus é fruto de uma decisão em cumprir até o fim o projeto salvador do Pai, doando sua vida para que todos tenham vida. Esta paz não é cessar conflitos, mas é serenidade e coragem que vêm da convicção profunda. Deus está presente nos conflitos e é mais poderoso que estes. Paz que está na observância de sua Palavra, na comunhão com Deus. É deixar-se guiar pelo Espírito e agir segundo a luz. Paz que não deseja vingança, mas a justiça e o perdão. Paz que nesta vida não dispensa o sofrimento, mas infunde coragem sem medo até a luta, quando necessário para conservar a fé em Deus.
Jesus estará presente conosco até os confins da terra. Essa presença do Espírito não pode ficar fechada e escondida no coração dos discípulos. Pelo contrário, deverá ser revelada até os “confins da terra” pelo testemunho dos Apóstolos e de quantos amam Jesus de verdade. A Missão de Jesus era ser testemunha até Jerusalém. A Missão dos Apóstolos e da Igreja é serem testemunhas até os “confins da terra”, levando a Paz e a Palavra de Salvação.
Qual a nossa atitude? Respeito a este Divino hóspede: em nossa pessoa e na pessoa dos irmãos. Daí decorre também o nosso compromisso de proteger e promover a vida em todas as suas dimensões.

Pe. Anderson Messina Perini
Administrador Paroquial da Paróquia Jesus Bom Pastor de Santo André

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