E como o tempo está passando rápido? O ano de 2024, então, voou. Estamos nos últimos dias. Como diria Fiori Giglioti nos potentes microfones da Rádio Bandeirantes: “O temmmmpo passa, torcida brasileira”. A medida que ele avança, nós vamos envelhecendo e atravessando gerações. Graças a Deus.
Na semana passada fiz uma visita no Salão Avenida, localizado na Avenida Faustina, 282. Para mim, o mais tradicional da cidade e também o mais charmoso. Para minha surpresa, fui atendido pela terceira e quarta geração da família “Fabrício”: os corintianos Luciano Rodrigo Fabrício e o William Codonho Fabrício. Uma família tradicional, que sempre esteve à frente do Salão Avenida, e no mesmo local. Apesar de que atualmente meu cabelo está um pouco mais ralo. Porém, periodicamente tenho que dar um “trato”.
Sentando numa das cadeiras, voltei no tempo, começo dos anos de 1960. Lembro que na época o “barbeiro” era o Sr. Ângelo Batista Fabricio. O salão era popularmente conhecido como “barbearia do surdo”, pois o “Seo” Batista tinha um problema de audição. A Avenida Faustina ainda era de terra batida. O salão era bem movimentado, muita gente circulando naquela região.
No entorno havia a Companhia Marumbi de Óleos Vegetais e a Fábrica de Óleo e Sabão Serenata, do Sr. Manoel Joaquim Fernandes, o “Manolo”. A estação do trem da Paulista não ficava longe dali, atraindo mais gente ainda. Sem falar que era o ponto de encontro dos esportistas da época. O rádio era o principal meio de comunicação na transmissão dos jogos.
Minha família morava na colônia da Paulista, e o meu pai Salvador Cassola, me levava para cortar cabelo. Assim que chegávamos, o “Seo” Batista já perguntava: “Americano?”. Era o corte da época, numa alusão aos valentes soldados americanos. Isto é, rapava tudo e só deixava um pequeno topete. Hoje acredito que seria até mais por medida de economia. Rapando “zero”, demorava mais tempo para o cabelo crescer e voltar para um novo corte.
Assim que sentávamos na cadeira, o “Seo” Batista, sempre calmo e mãos precisas, passava uma maquininha de corte que subia e descia até o pescoço. Às vezes a máquina não estava bem afiada e puxava as pontas do cabelo. Doía um pouquinho, mas nada de reclamar.
Em seguida, ele tirava um creme gelado de um potinho de alumínio, que passava na parte detrás do pescoço. De costume afiava a navalha numa madeira com um couro, e dava os últimos detalhes. Aí era a vez de molhar a mãos com álcool ardente e passar na “careca”.
Para finalizar, o “Seo” Batista tinha uma bombinha manual de borracha marrom. Apertava e saía um talco cheiroso, que envolvia o cabelo recém cortado. As vezes aquilo entrava pelo nariz. Depois falava: “Pronto, acabou”. Hora de pagar e voltar para casa. O salão era famoso e estava sempre cheio. Com o passar do tempo, o Natal Fabrício, filho do “Seo” Batista, ganhou uma cadeira e começou a trabalhar também. Logo em seguida foi a vez do irmão Edgar. Os dois no mesmo estilo do pai. O Edgar ficou pouco tempo. Resolveu abrir um bar ao lado, na esquina com a Avenida Presidente Vargas. O Bar do Edgar também fez sucesso, pois ali era feito o melhor torresmo da cidade. Especialidade da casa, saboroso e crocante, só ele tinha a receita e não revelava. Infelizmente o Edgar também já nos deixou, e o bar foi vendido.
À medida que fui crescendo, optei por cortar cabelo com o Natal. Tudo porque ele gostava de futebol e brincar com os clientes. Sem falar que era palmeirense roxo. Na verdade para mim, o Natal vibrava bem mais quando o Corinthians perdia um jogo, ou ia mal no campeonato. Normalmente um corte deve durar uns 20 minutos, mas cansei de ficar sentado na cadeira dele por mais tempo, cerca de uma hora. O Natal se empolgava sempre “zoando” o Corinthians. Não restava para os clientes aguardar pacientemente a sua vez.
Com o falecimento do “Seo” Batista no ano de 2007, o Natal assumiu o comando do salão. Para auxiliá-lo trouxe o filho Luciano, que aos poucos foi aprendendo o ofício. Procurando crescer, foi se aprimorando. Na Afai (Associação Feminina de Assistência a Infância), concluiu o curso de cabelereiro em junho de 1992. Portanto, já está no oficio há mais de 32 anos. Com o pai trabalhou até o ano de janeiro de 2021, quando o Natal faleceu.
O Luciano foi em frente, o salão não parou jamais. Muito pelo contrário, foi reformado e modernizado, agora atendendo os clientes em outro estilo. Procurando manter a tradição familiar, o Luciano chamou o filho William. Depois de fazer o curso no Instituto Embeleze, arrumou um nova cadeira. O William segue firme nos cortes modernos e estilosos, agradando os novos clientes.
De fato o tempo está passando, ou melhor, voando. Este articulista cortou cabelo com as quatros gerações dos Fabrícios. Primeiro o “Seo” Batista, depois o filho Natal, o neto Luciano e agora o bisneto William. Na esperança de ainda se sentar na cadeira e ser atendido pelo trineto. Será?
SALÃO AVENIDA
Foi montando pelo “Seo” Angelo Batista Fabricio, no começo do ano de 1960, quando registrou o salão na prefeitura. Porém, ele já trabalhava bem antes, uns dois ou três anos. No início o salão ficava um pouco mais abaixo de onde hoje está funcionando.
O “Seo” Batista, nasceu em Guarantã. Até que tinha um bom emprego. Era administrador de uma fazenda. Na época, começou aprender o ofício cortando o cabelo do pessoal que morava na colônia. Com o passar dos anos, decidiu mudar para Garça, alcançar novos ares. Aqui montou o próprio salão, trabalhou com dedicação por vários anos.
Constituiu sua família e não saiu mais, deixando um legado que jamais será esquecido. Como ele sempre falava para a sua clientela: “Escolhi a cidade certa para ficar e trabalhar como barbeiro”. O Salão Avenida está em atividades ininterruptas por no mínimo 66 anos. E com certeza ainda vai seguir por muito tempo ainda. “
UM FELIZ E SANTO NATAL PARA VOCE” !!!
Wanderley “Tico” Cassolla