A cada Dia de Finados, milhares de pessoas visitam o cemitério para prestar homenagens aos entes queridos, porém, poucos conhecem as curiosidades e fatos históricos que circundam este espaço sagrado. Neste especial, desvendamos alguns dos mistérios que tornam o cemitério mais antigo da cidade um verdadeiro marco histórico e cultural.
PRIMEIRO ENTERRO
Fundado em 29 de janeiro de 1929, o Cemitério Santa Faustina possui cerca de 44.700 pessoas sepultadas, número que supera a população do município que é de 43.115 habitantes em 2024, segundo o IBGE. O espaço foi inaugurado quando Garça ainda fazia parte da Comarca de Piratininga. O primeiro sepultamento registrado é o de um menino chamado Joaquim, ocorrido em 5 de maio de 1929. Na época, era comum que crianças, especialmente de famílias humildes, não fossem registradas com sobrenome, refletindo a simplicidade dos costumes de então.
MORTALIDADE INFANTIL
Um dado surpreendente sobre o Cemitério Santa Faustina são os elevados índices de sepultamentos de crianças nas décadas de 1930 e 1950. Em 1930, por exemplo, o cemitério registrou 150 sepultamentos, dos quais 77% eram de crianças com menos de 10 anos, sendo 70 natimortos ou bebês com menos de um ano. As causas mais comuns incluíam a falta de assistência médica, anemia, hepatite, pneumonia e intoxicação alimentar, doenças que hoje são tratáveis, mas que na época eram fatais.
Em 1940, dos 655 sepultamentos, cerca de 42% eram de natimortos ou crianças com menos de um ano, e outros 23% de crianças entre 1 e 10 anos. Já em 1950, o número de enterros chegou a 692, com 77% de menores de 10 anos, reforçando a gravidade da mortalidade infantil em um período em que o acesso à saúde era extremamente limitado.
OS MAIS VELHOS
Entre as personalidades mais longevas sepultadas no Cemitério Santa Faustina está Dona Maria Guedes, falecida em 4 de dezembro de 1940 aos 125 anos. Nascida em Casa Branca, Minas Gerais, ela é considerada a mulher mais velha já registrada no município de Garça. Há também relatos não confirmados de uma mulher que teria vivido até 129 anos, falecida na década de 1930, o que a tornaria uma das pessoas mais longevas da história de Garça.
CORPOS PRESERVADOS
Muitos visitantes se perguntam por que há uma concentração de túmulos antigos de crianças em uma área específica do cemitério, próxima ao portão principal. Segundo o antigo agente funerário Paulo Belei, falecido há alguns anos, isso se deve a uma época em que muitas crianças sucumbiam a doenças como sarampo e verminoses, males que atualmente são facilmente tratáveis.
Outro fato intrigante são os relatos de coveiros que, ao exumar túmulos antigos, encontram corpos em surpreendente estado de preservação. Para alguns trabalhadores mais novos, a cena pode ser chocante, mas especialistas acreditam que a causa dessa preservação natural esteja relacionada ao uso de medicamentos e processos químicos que desencadeiam uma espécie de mumificação espontânea. Nessas ocasiões, as famílias são consultadas sobre o destino do corpo, que pode ser mantido na sepultura.
ENTERRADOS VIVOS?
Uma lenda popular envolve a possibilidade de pessoas terem sido enterradas vivas no passado, fato que teria sido constatado em exumações nas quais o corpo estava posicionado de forma incomum, ou com o caixão arranhado internamente. No entanto, até o momento, os administradores e coveiros mais antigos do Cemitério Santa Faustina afirmam nunca ter encontrado indícios concretos desse fenômeno em Garça.
ORIGEM DO NOME
O nome do cemitério homenageia Faustina, uma das esposas do pioneiro Labieno da Costa Machado, e também batiza uma avenida no bairro Labienópolis. Embora possa parecer uma referência à Santa Faustina Kowalska, a freira canonizada em 2000 pelo Papa João Paulo II, a homenagem não tem relação direta com a santa polonesa. Trata-se, na verdade, de um tributo à esposa de um dos primeiros colonizadores de Garça.
UM LOCAL DE REFLEXÕES
O Cemitério Santa Faustina é um marco histórico que carrega em suas alamedas não apenas a memória dos que partiram, mas também um panorama das mudanças sociais e de saúde pública que moldaram a cidade ao longo dos anos. Entre lendas, mistérios e recordações, o local é um ponto de peregrinação e reverência para os cidadãos de Garça, que, a cada Dia de Finados, renovam o compromisso de manter viva a memória daqueles que se foram. (Texto concebido a partir de informações coletadas pelo jornalista Paulo Scutari)