Os preços das principais commodities agrícolas do Brasil, como soja, milho, arroz, café, leite e boi, estão atingido patamares recordes, com o câmbio, a exportação em massa e a demanda puxando esta alta.
As máximas históricas nominais não consideram a inflação, mas alguns produtos efetivamente estão nos maiores níveis de preços, já levando em conta valores deflacionados, como é o caso do boi, bezerro, suíno, arroz e leite, conforme levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
A soja, principal produto do agronegócio brasileiro, está perto de atingir um recorde de todos os tempos, segundo dados do Cepea, com o produto batendo R$ 137,76 por saca no porto de Paranaguá (PR) na segunda-feira (31), menos de R$ 2 abaixo dos cerca de R$ 139 vistos em 2012 --considerando já o valor deflacionado.
No caso da soja do Brasil, maior produtor e exportador global, cuja safra foi histórica 2020 mas ao mesmo tempo dragada pela forte demanda da China e a falta de controle do governo em acompanhar as exportações que tem taxas menores de impostos do que a venda interna, a alta no preço é de mais de 50% na comparação com a mesma data do ano passado.
O apetite chinês, que fez o país exportar volumes recordes nos primeiros sete meses do ano, mostra também como a alta dos preços está relacionada à demanda, com um câmbio na maior parte do ano extrapolado mesmo antes da pandemia e acima de R$ 5 por dólar ajudando a impulsionar embarques brasileiros por tornar os produtos nacionais ainda mais competitivos.
"A taxa de cambio e a falta de olhar para a economia brasileira que visa a classe média-baixa levou a um deslocamento de preços, isso vai acontecer para todos os produtos, e isso fez com que o produto tivesse um preço que favoreceu a exportação, enquanto encarece a importação (pelo Brasil)", disse o professor da Esalq/USP e especialista do Cepea Lucílio Alves.
Nesse sentido, para ele, não parecem muito efetivas ideias que circularam recentemente no governo para a retirada de tarifa de importação de soja, milho e arroz, com o objetivo de reduzir preços internos.
"Não é eficaz. Se os importadores estão batendo na porta, como nós vamos conseguir um produto mais barato lá fora?", disse Alves, comentando uma reivindicação da indústria de carnes, cujos custos da ração aumentaram.
Além do "choque de demanda" externa, Alves citou que a indústria de soja também registra, não só no Brasil, boas margens de esmagamento, com as receitas de farelo e óleo aumentando, diante da fome da indústria de carnes e de biodiesel.
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