Faleceu nesta quinta-feira (30) em Garça, aos 94 anos de idade, Paulo “Paulinho” Ishiki – um ex-comerciante tradicional da cidade que marcou época com seu famoso Restaurante e Lanchonete Columbia. Nascido em Araçatuba, Paulinho Ishiki integrou a colônia nipo-brasileira que Garça acolheu de braços abertos, construiu família e fez muitos amigos na cidade que escolheu para nunca mais deixar. Seu corpo foi sepultado na manhã desta sexta-feira no Cemitério Santa Faustina, em meio a homenagens carregadas de saudade.
Paulinho Ishiki foi um típico migrante de origem japonesa que chegou a Garça e se estabeleceu comercialmente, tornando-se uma figura conhecida e querida. Juntamente com seu irmão, Sérgio, ele comandou por muitos anos o Restaurante e Lanchonete Columbia, situado na Rua Heitor Penteado, 180, bem no centro da cidade. Inaugurado nos anos 1960, o Columbia tinha estilo de “diner” americano e serviço à la carte de primeira qualidade, com destaque especial para as pizzas e salgadinhos. A casa rapidamente se tornou referência na cidade, sinônimo de excelência gastronômica e ambiente acolhedor.
Depois que o Columbia encerrou suas atividades, Paulinho ainda empreendeu em novos endereços. Ele abriu a lanchonete Ponteio, na esquina das ruas Carlos Ferrari e José Augusto Escobar, dando continuidade à tradição de bom atendimento e ótimos lanches. Tempos depois, o comerciante se adaptou mais uma vez e levou seu negócio para dentro da nova Rodoviária de Garça, mantendo por algum tempo o ponto de encontro dos viajantes e moradores. Ao encerrar definitivamente as atividades comerciais anos mais tarde, Paulinho já havia consolidado seu nome na história do comércio local como um exemplo de trabalho, simpatia e perseverança.
Durante as décadas de 60, 70 e 80, o Columbia foi o ponto de encontro da juventude garcense. Localizado próximo à Praça Rui Barbosa – e ao lado de outros estabelecimentos icônicos como o Bar Odeon e o Restaurante Galo de Ouro – o Columbia vivia com as mesas cheias nas noites da cidade. Feriados e finais de semana eram especialmente movimentados: após as sessões de filme no Cine São Miguel, os jovens e famílias esticavam a noite para saborear as famosas pizzas ou petiscos do Columbia. A atmosfera era vibrante e familiar, e muitos lembram com carinho das conversas animadas embaladas por um refrigerante de tubaína ou um cafezinho.
O Columbia não era apenas um restaurante, mas parte da vida social e cultural de Garça naquela época. "Ali se reunia a 'boleirada' da cidade – jogadores do Garça Futebol Clube dos anos 1970 e craques do futebol amador local – para conversar sobre o esporte, comentar resultados e celebrar conquistas. As grandes vitórias e títulos do time eram comemorados nas dependências do Columbia, que praticamente funcionava como uma segunda casa para atletas e torcedores. Assim, o estabelecimento de Paulinho Ishiki ficou indelevelmente associado à memória afetiva de uma geração, representando tempos dourados do centro de Garça", recorda o colunista Tico Cassola.
A notícia da morte de Paulinho Ishiki ecoou nas redes sociais, onde dezenas de amigos, ex-clientes e moradores de Garça manifestaram pesar e compartilharam lembranças nostálgicas. Muitos depoimentos ressaltaram a atmosfera única do Columbia e a figura acolhedora de seu proprietário.
Em um relato emocionado, a jornalista Doralice Ribeiro lembrou das visitas ao Columbia que faziam parte das tradições de sua família nas décadas passadas: “Sempre na Semana Santa, Sexta-feira da Paixão, meu avô Pedro vinha de Agudos, ou da Fazenda Jaraguá, com meus tios Djalma e Elvira, para os festejos santos. Depois da procissão, do filme da Paixão no Cine São Miguel, ele nos levava no Columbia. Era uma festa regada a peixe, tubaina e pastel”, escreveu Doralice, recordando os sabores e momentos vividos na infância. “Já adolescente, ia lá com os amigos e, no cardápio, sempre a pizza portuguesa. Uma delícia”, acrescentou a jornalista, destacando como o Columbia continuou presente em diferentes fases de sua vida.
Outra memória marcante veio do jornalista Zancopé Simões, que trabalhou na Rádio Clube de Garça nos anos áureos do Columbia. “A gente descia rapidinho as escadas da Rádio Clube de Garça para um cafezinho no Columbia”, contou Zancopé sobre a rotina nos intervalos da rádio. “Era por três minutos. O tempo de uma música. Inesquecível.” Essa descrição pintou a cena de uma época em que até mesmo profissionais em serviço davam um jeitinho de aproveitar a hospitalidade de Paulinho nem que fosse por poucos minutos – um testemunho de como o Columbia estava integrado ao cotidiano da cidade.
Amigos próximos também prestaram homenagens sinceras. Eurico A. Bagagi, grande amigo de Paulinho, relatou as madrugadas em que era recebido de portas abertas no Columbia após longas viagens: “Eu chegava de São Paulo às 4h da madrugada, depois de trabalhar o dia inteiro e enfrentar 6 horas de viagem. Ele me recebia com aquele sorriso, preparava meu lanche e uma cerveja gelada”, lembrou Eurico, valorizando a dedicação e gentileza do amigo nas horas mais improváveis. “Era muito boa nossa prosa... Gostava muito dele e do irmão. Saudades”, completou, demonstrando o carinho e a falta que Paulinho fará.
Outros garcenses anônimos também expressaram a saudade de uma época que não volta mais. “Nossa, que história… época boa do centro de Garça à noite!!”, resumiu em um comentário o morador Sergio Maximiano, ao se deparar com a notícia e recordar os bons tempos vividos. Esse sentimento coletivo de saudosismo reforça o quanto Paulo Ishiki e seu Columbia deixaram marcas profundas na memória da comunidade.
Com a partida de Paulinho Ishiki, Garça se despede de um de seus ilustres pioneiros comerciais. Ficam as histórias, os sabores e as amizades cultivadas ao longo de décadas. Os lamentos vêm acompanhados de gratidão pela contribuição desse comerciante à vida cultural da cidade – um legado de convívio, alegria e tradição que ecoará nas lembranças de todos que frequentaram o querido Columbia. Paulo Ishiki deixou a esposa Yukie, além dos filhos Elizabeth, Marli, Emília, Enio e Kleber.