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“Solenidade de Todos os Santos” — por Pe. Anderson Messina Perini
Solenidade de Todos os Santos recorda o chamado universal à santidade e celebra aqueles que viveram as Bem-Aventuranças de Cristo
31/10/2025 09h01
Por: Redação Fonte: Garça em Foco
A solenidade de Todos os Santos é fixada tradicionalmente no calendário universal da Igreja Católica no dia 1º de novembro, mas para Igreja do Brasil por não ser feriado e devido sua importância é transferido para o primeiro domingo de novembro. Este ano, devido o dia de Finados cair no domingo, a Igreja no Brasil celebra esta solenidade no sábado no próprio dia.
A origem desta solenidade remonta o povo de Israel e a veneração as pessoas falecidas no âmbito familiar. Na era cristã e o desenvolvimento do culto dos mártires, verdadeiras testemunhas fiéis de Cristo, a Igreja do Oriente começou a celebrá-los conjuntamente a partir do século IV durante o Tempo Pascal, na sexta-feira da Oitava da Páscoa. Com o tempo, a comemoração aos santos se estendeu a eremitas, ascetas, virgens e viúvas e tantas outras categorias de santos, além dos mártires.
No ano 25 antes de Cristo, em Roma, foi construída um templo a todos os deuses do império em honra a Jupiter, o chamado Panteão, pelo Imperador Focas. O papa Bonifácio IV (608-615) consagrou este templo em Igreja em honra a Santa Maria e a Todos os Mártires, que passa a ser celebrada em 13 de maio. No século VIII, a Inglaterra instituiu para o dia 1º de novembro, a solenidade de Todos os Santos. A partir do século IX, o papa Gregório IV universalizou a data de 1º de novembro. No século XI foi acrescentada no dia 2 de novembro a comemoração de todos os féis defuntos, por obra dos monges de Cluny (França), conforme se celebra até hoje.
A data desta celebração tem uma localização muito feliz no calendário litúrgico. Quase no fim do ano da Igreja como que celebra os frutos da salvação adquirida pela morte e ressurreição de Jesus Cristo. A partir da Páscoa e de Pentecostes a Igreja procurou viver a mensagem de Cristo, produzindo frutos de boas obras. O espírito das bem-aventuranças, na prática dos mandamentos do amor, produziu o seu fruto, agora celebrados nesta solenidade. Numa só festa a Igreja se alegra por todos os santos e as santas canonizados ou não, todos os justos de todas as etnias e nações, cujos nomes estão escritos no livro da vida (cf. Ap 20,12).
No Antigo Testamento, a Sagradas Escrituras reservou a Deus o título de “Santo”, que no significado mais próximo quer dizer “Sagrado”: Deus é o “Outro”, espiritual e tão longe do homem que é incapaz de participar de sua vida. Diante de sua santidade, o ser humano deve ter respeito e temor (cf. Ex 3,1-6; Gn.15,12).
Na religião de Israel, Deus salva seu povo comunicando-o a santidade, o qual se torna este povo sagrado e de sua pertença. Este povo deveria manifestar em sua vida cotidiana, e sobretudo no culto, um comportamento diferente de todos os povos (Lv 19,1-37; 21,1-23). Mas para efetuar esta santidade a que Deus o chamava, o povo eleito tinha apenas a Lei e práticas de purificação exterior. Os profetas, ao longo da história de Israel, exortavam o povo que estes meios eram insuficientes se não procurassem uma vida justa, condizente, a “pureza de coração”, capazes de fazê-los participantes da vida de Deus (cf. Is 6,1-7; Sl 14; Ez 36,17-32). Esses puseram sua confiança numa santidade comunicada diretamente por Deus.
Esta palavra cumpre-se em Jesus Cristo: ele irradia a santidade de Deus, nele repousa “o Espírito de santidade”, ele reivindica o título de “santo” (cf. Jo 3,1-15; 1 Cor 3,16-17; Gl 5,16-25). E de fato, pelo seu mistério redentor santifica toda a humanidade. Jesus Cristo, tornado “Senhor”, transmite a santidade à Igreja por meio dos sacramentos, que trazem ao homem a vida de Deus. Esta doutrina era tanta viva na igreja primitiva que os membros da Igreja não hesitavam de chamar-se de “os santos”, e a própria Igreja de “comunhão dos santos”. A santidade cristã manifesta-se, assim, com uma participação da vida de Deus, que se realiza pelos meios que a Igreja oferece, particularmente os sacramentos. A santidade não é fruto do esforço humano, que procura alcançar a Deus com suas forças num ato de heroísmo. Ao contrário, a santidade é dom de Deus, dom de seu amor, que se oferece gratuitamente a todas as pessoas que se aproximam e respondem ao chamado divino. Somos chamados por Deus a sermos santos como ele é Santo.
A Liturgia da Palavra desta solenidade revela o projeto de Deus a respeito do homem: quer torná-lo participante da sua Santidade. A Primeira Leitura (Ap 7,2-4.9-14) afirma que uma grande multidão de pessoas, de todos os povos, são os santos que participam da glória celeste, junto de Deus. O texto fala de 144 (cento e quarenta e quatro) mil eleitos. O Número é simbólico e indica a totalidade da comunidade cristã. A Segunda leitura (1Jo 3,1-3), o apóstolo João recorda que a vida divina, que se manifestará no final da vida, já está presente em nós desde agora. Somos filhos de Deus, participantes de sua graça, mas ainda não se manifestou o que, de fato, seremos. Quando Jesus se manifestar em sua glória, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é. 
No Evangelho (Mt 5,1-12), Jesus apresenta uma proposta de Santidade, resumida nas Bem-Aventuranças. Elas podem ser divididas em três grupos. Primeiro, feliz são os pobres em espírito: pobres em espírito e perseguidos por causa da justiça se traduz numa mesma realidade e recompensa – porque deles é o reino dos Céus. Ser pobre em espírito é praticar a justiça que traduz em opção pelo reino, que se traduz em ações de justiça, solidariedade, liberdade, fraternidade, partilha e vida. É feliz quem não é apegado a bens materiais e busca construir o reino, que colocou Jesus em primeiro lugar.
O segundo grupo apresenta a situação dos pobres que buscam a libertação: quem é pobre em espírito é ao mesmo tempo são os aflitos (que sofrem as consequências desta sociedade cruel e violenta), os mansos (despossuído, despojado de bens) e os que lutam pela justiça (sede e fome de justiça). Segundo Tomás de Aquino, é aquele que tem o dom da piedade e da justiça, que retribui e luta para que cada um tenha o que lhe é devido e retribui a Deus os seus dons com a Oração e a participação nos sacramentos, sobretudo, a Eucaristia. Também agem segundo a prudência e o discernimento; sabem fazer a melhor escolha e ter equilíbrio nas atitudes. Vivem o dom da ciência, discernindo os sinais dos tempos, e dom da fortaleza, possuindo firmeza para perseverar no caminho do bem.
Por fim, as opções e práticas dos pobres para construção do reino. Suas opções são: a misericórdia, que se traduz em gestos de solidariedade e compaixão; a pureza de coração, o qual sua prática não se corrompe; permanecem fiéis ao projeto de Deus, agem segundo o dom da inteligência e a virtude da fé aprofundando no conhecimento de Deus podendo agir mais firme no seu projeto; e a promoção da paz, pois só é verdadeiro feliz quem vê o outro feliz, pois age com caridade e tem o dom da sabedoria, pois tem gosto pelas coisas de Deus. Assim, o melhor Caminho para a Santidade é a vivência das Bem-aventuranças.
Esta Solenidade pretende homenagear todos os santos, conhecidos ou não, e apresentar o ideal da santidade como possível hoje e desejado por Deus. “Todos os fiéis são chamados à Santidade cristã. Ela é a plenitude da vida cristã e perfeição da caridade, realiza-se na união íntima ao Cristo e, nele, com a Santíssima Trindade”. (CCIC 428)
Portanto, a solenidade de Todos os Santos nos leva a dar graças a Deus pelo dom da santidade. A inspirar-se e imitar o exemplo daqueles que acolheram o dom da santidade em sua vida e participam da glória do céu. Somos encorajados a viver no espírito das bem-aventuranças e participar da multidão dos santos e santas, que por ora nós somos peregrinos, caminhando com a graça divina para glória celeste.
 
 
Pe. Anderson Messina Perini
Administrador Paroquial da Paróquia Jesus Bom Pastor de Santo André
Mestrando em Teologia PUC/SP