O brasileiro gasta mais com beleza do que com a educação, revela pesquisa, e se isso soa preocupante, mais preocupante ainda se levarmos em conta que a cada ano de vida, o uso de produtos de beleza tende a aumentar, sendo assim, recursos financeiros que poderiam ser usados sabiamente, estão sendo levados pelo ralo, junto com cremes e poções milagrosas...
Essa ânsia pela eterna juventude alimenta um mercado bilionário, que mente descaradamente para atrair as insatisfeitas, pois que alguns procedimentos de beleza, na maioria das vezes não passam de placebo, pois que não há “Jequiti” e “Avon” no mundo que dê jeito em algumas coisas...
Desculpem, mas a gente vai perdendo as travas na língua – no meu caso nos dedos – com o passar do tempo, e creiam, isso também não tem produto de beleza que dê jeito...
Mas saio agora em defesa dos que apreciam exageradamente o próprio reflexo; segundo outras pesquisas, pessoas feias e mal arrumadas tendem a ganhar menos, enquanto mulheres bonitas são facilmente contratadas, muitas vezes apenas para sorrir e fazer cara de “paisagem” para clientes, ou ainda alimentar egos de quem já passou da data de validade e precisa ter a juventude ao alcance das mãos... Ah, meu Deus, cadê minha poção diária da moderação?
A beleza realmente atrai e se você não gosta muito do próprio reflexo, saiba que faz parte de uma maioria, que gasta e gasta, mas não consegue consertar a imagem negativa que aquele cretino produtor de reflexos já lhe condicionou.
Mas aqui vai uma dica: Estude! Mesmo sendo bonito, pois as portas se abrem para o belo, mas para permanecer dentro é necessário mais que caras afetadas, pois o tempo corre para todos, belos ou feios; e o final é a mesma cara de vela derretida para os pobres e a mesma cara de múmia sem expressão para os ricos... Desculpem novamente o mau jeito, mas esqueci de usar minha loção milagrosa da tolerância hoje...
Ah, espelhos... Por que eu fico magra nesse, e naquele outro eu fico gorda?
Eu descobri o segredo, vou contar: Os espelhos são como pessoas; alguns inspiram nosso melhor lado, enquanto outros... Esteja ao lado ou de frente para o “espelho” que reflete seu melhor, fuja dos que distorcem aquilo que você é, daqueles que querem aparecer mais que seu reflexo.
E por falar em espelho, o que seria dele sem a vaidade?
Vaidade, orgulho... Vaidade sem orgulho, orgulho sem vaidade...
Não os confunda...
A vaidade não vive sem espelho, pois é aquilo que pensamos que os outros pensam de nós mesmos e por isso nos arrumados com esmero; unhas, cabelos, cheiros... Precisamos estar impecáveis, afinal é assim que os outros nos veem e devemos fazer jus. E uma última olhada no espelho antes de sair... E mais uma! Ah, só mais uma, vai...
O orgulho não precisa do espelho, pois é aquilo que pensamos de nós mesmos, estamos certos e somos tão confiantes do que somos que saímos sem a aprovação do arqui-inimigo das feias, afinal somos perfeitos, não temos nada fora do lugar, nossa aparência está sempre impecável, para que espelhos?
Não sei qual dos dois soa pior, se o que tenta vender a imagem ou o que acredita já ter vendido.
Vaidade é se enfeitar, seduzir, conquistar e cada qual usa a arma que tem. Alguns apelam para a aparência, uma conversinha ensaiada, presentes, elogios e outros usam o mais vil dos truques: agarram o infeliz pelo estômago!
Orgulho é fazer pouco, aniquilar com o excesso de confiança, estar sempre olhando com descaso, como se fosse o conhecedor de todos os segredos do mundo...
E no reino animal dos bichos de penas e pelos, outubro no ar, a primavera canta em cada canto, época mágica do acasalamento, e a vaidade impera... Chegou a hora de mostrar a plumagem, exibir as penas coloridas como um troféu, e sem precisar olhar o espelho para conferir se está tudo no lugar, se não tem nenhuma peninha branca aparecendo. Quem dera tivéssemos essa confiança!
Dançar, inflar, presentear, intimidar, aproveitar, aprisionar... Calma, eu ainda estou falando do reino animal, aquele de penas e pelos...Pássaros que dançam? Focas que enchem os narizes até que virem grandes balões rosa? Eles se mostram, exalam cheiros e exibem cores, não muito diferentes de nós, mas se a vaidade já pode ser percebida no reino animal de penas e pelos, o orgulho ainda demora um pouco...
O orgulho é coisa de humanos, ele é seguro, te olha de cima, não precisa da sua aprovação...
A vaidade por outro lado é insegura, bajuladora, olha nos olhos, quer e precisa do seu olhar de veneração...
O orgulho é preconceituoso, a vaidade sedutora...
O orgulho sabe tudo, a vaidade precisa saber tudo...
Com esses dois ingredientes juntos, temos a receita para os piores perfis da história da humanidade, e aqui só para não ficar dúvidas, agora falado dos animais humanos, sem penas, mas ainda com pelos...
Vanderli do Carmo Rodrigues