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“Quero ser uma samambaia” — por Vanderli do Carmo Rodrigues
Entre válvulas de escape e exageros modernos, refletimos sobre o peso das cobranças da vida, as fugas da realidade e a polêmica tendência dos “transespécie”.
10/09/2025 08h06
Por: Redação Fonte: Garça em Foco

Encarar a vida é para os fortes! Com certeza não é fácil viver neste mundo, e com mais certeza ainda, todos querem dar uma escapadinha vez ou outra, das “responsas” do viver... é tanta cobrança... e a maioria delas, somos nós mesmos que estipulamos! Queremos nos sobressair, criar, resolver, deixar marcas, fazer tudo com perfeccionismo, e... no final, não damos conta nem da metade, temos crises de ansiedade e somos forçados a diminuir o ritmo, e acreditem, sem relaxar...
Eu tenho uma amiga que diz: “Na próxima vida, quero nascer uma samambaia!” ficar vegetando e sendo cuidada, sem preocupações e sem cobranças... eu já penso, quero nascer gato em casa de quem ama; dormir, comer, ganhar um chamego e voltar a dormir... Tentador não precisar se preocupar com contas disso e daquilo, despensa esvaziando, roupas ruindo e eletrodomésticos pedindo novos...
É, realmente, viver é para os fortes, talvez por isso, existam tantos meios de fugir da vida, sem, no entanto, deixar de viver; as famosas válvulas de escape... Tirar uma folga do peso cotidiano, viajar e se divertir; isso é normal e saudável, faz parte da natureza humana e algumas pessoas realmente precisam dessa “fuga”. Mas parece que os tempos agora, pedem uma fuga mais elaborada e contundente, digamos que uma fuga de si próprio.
Talvez desconhecido para muitos, mas já ouviu o termo trans espécie ou Therian? Eu já tinha ouvido falar do assunto, mas soava mais como um fetiche, nada de alarmante, e até inocente, pois que parecia ser alguma terapia de fim de semana.
Indivíduos trans espécie se identificam com uma espécie animal específica, e alegam sentir uma conexão profunda com ela; eu poderia dizer que é bem legal, já que isso mostra amor e respeito pelos animais, mas o ser humano tende ao exagero em tudo, e essa tendência evoluiu, e temos visto verdadeiras aberrações acontecendo. 
Aqueles que possuem condições de pagar, estão mudando o corpo para se transformarem literalmente em animais, ou mesmo em alienígenas que evoluíram de repteis, felinos e pássaros; e o resultado, parece algum personagem de filme de fantasia... Eles amputam dedos, orelhas, narizes... Cortam a língua ao meio para ficarem bifurcadas, arrancam lábios, tingem os olhos, tatuam o corpo todo, lixam dentes, aumentam as presas e colocam próteses que lembram chifres, ou mesmo protuberâncias típicas de lagartos nos braços e cabeças... 
Os que não possuem condições de modificar o corpo com cirurgias, estes se vestem como animais e passam o dia imitando-os... Claro que não há como generalizar, algumas dessas pessoas são artistas, ou participam de encontros, festivais, não deixando esse hobby interferir na sua vida e produtividade. Mas não é sobre a exceção que esse texto trata.
Para os que passam o dia dormindo feito um gato ou cão, que mudam o corpo, gastam horrores e perdem sua humanidade por se dizerem confortável em ser animal, apenas para chamar a atenção ou causar estranheza, sinto pena, pois que estão desperdiçando seu tempo e sua vida...
A alegação deles, é que se existe a liberdade em escolher o gênero, também tem que haver a liberdade de escolher a espécie... Ah, as liberdades... E os deveres onde entram nesses excessos? Milhares de pessoas pelo mundo, fazendo manifestações, latindo, berrando, uivando e miando em portas de congressos, pedindo que o mundo as aceite como animais, desejando diretos que as beneficiem como animais.
Sinto dizer amigos trans, mas caso não saibam, nem os animais verdadeiros possuem tantos direitos assim, ainda são mortos para o consumo, escorraçados em portas de lanchonetes e abandonados em estradas desertas, sem que leis eficazes os protejam e defendam. 
E há sempre os argumentos calorosos de que temos o livre arbítrio para decidir ser quem quiser, fazer o que quiser, mas esses trans, ao menos a maioria deles, passam o dia agindo feito um animal, dependente de cuidados, alguns precisam de alguém que os ajude a colocar a fantasia que supostamente o tornará animal, fantasia esse que eles passam o dia todo usando! Imaginem o cheiro!
E o tal do livre arbítrio de quem se presta ao papel de alimentar e limpar esse animal gigante? Esse não existe, não é? Aliás, animal que não deve comer pouco e com sujeiras compatíveis, se é que me entendem...
Bom, nem todos nós poderemos ser animais, apesar de ser tentador passar o dia dormindo feito gato, alguns de nós precisa trabalhar, e cá entre nós, tem que ter tempo e condições de ficar de bobeira o dia todo, tem alguém sendo gente para que esse indivíduo possa ser animal, concorda? Essa moda definitivamente não é para os fortes que precisam sustentar filhos, cães e gatos de verdade. “Isso é falta de uma enxada!” Diria meu pai, caso ainda estivesse nesse mundo, vendo essas aberrações...
Não envergonhem os animais, meus amigos, por favor... Desejar ser um animal vai muito além de se vestir como um deles, é preciso antes de tudo, ser bom e puro, e não há fantasia ou cirurgia plástica no mundo que fará esse milagre...
E nessa de querer fugir da vida, de cobranças em excesso, eu sou uma perfeccionista problema para mim mesma, e diante de tanta expectativa que coloco em meus frágeis ombros, semanas atrás pensei: Queria dormir por um mês! Pensei na inocência, sem me ater muito ao fato, pois que o que é dormir por um mês se não um coma? Não é uma coisa natural e nem deveria ser desejado, mas eventualmente a gente se pega pensando, querendo, planejando... é realmente uma fuga... 
Acho que quero ser uma samambaia também, daquelas de encosta de rio, ver a vida passar nas correntezas, sem cobranças, sem cansaço, sem medo... apenas o sol do dia, a água a irrigar minhas raízes e o embalar do canto dos pássaros...

Vanderli do Carmo Rodrigues