Marília é sede de um dos empreendimentos mais inusitados e criativos do mercado infantil: a fabricação de bebês reborn — bonecas hiper-realistas que simulam, com riqueza de detalhes, recém-nascidos de verdade. A iniciativa é tocada por Tiago Gomes e sua esposa, Núria Gomes, que transformaram o que começou como venda online de artigos infantis em um negócio consolidado e com conceito diferenciado: o Berçário Mágico, loja física que simula uma maternidade.
A ideia de trabalhar com os bebês reborn surgiu de forma quase acidental, quando o casal importava produtos infantis e um dos itens incluía uma dessas bonecas. Com o tempo, investiram em conhecimento, cursos e especialização para criar suas próprias peças. Hoje, a fábrica — localizada no Parque São Jorge, zona sul da cidade — produz cerca de 60 bonecas por dia e tem planos de ampliar ainda mais a estrutura com uma sede própria em Marília.
Para além da fabricação, o diferencial está na experiência oferecida: a loja física permite que o cliente personalize a roupinha, escolha o nome do bebê e participe de um “procedimento de alta” com direito a pesagem, teste do pezinho, certidão de nascimento e até um “livro do bebê” para registrar momentos especiais. Tudo é feito por uma “especialista reborn”, simulando uma enfermeira.
O público tem se diversificado. Embora o foco inicial fossem as crianças, o casal percebeu um crescimento expressivo de clientes adultos, especialmente mulheres e idosos que lidam com o chamado “ninho vazio”.
No entanto, o fenômeno também tem levantado discussões. Conforme relatado pela psicóloga Cibele Maria Brandão, do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Marília e Região (GEPM), os bebês reborn podem representar uma preocupação quando a fantasia substitui a realidade. Ela alerta para possíveis distúrbios emocionais quando há dificuldade de distinguir o boneco do ser humano real. O tema chegou até ao Tribunal Superior do Trabalho (TST), que precisou esclarecer que a posse de uma boneca reborn não dá direito à licença-maternidade.
Segundo o empresário Tiago Gomes, “abrasileirar” o produto foi uma das chaves do sucesso. Ao adaptar os modelos para atender práticas culturais locais — como dar banho no bebê —, a fábrica se destacou no mercado, criando peças com dispositivos internos que permitem a imersão em água, o que os modelos importados não ofereciam.
Todas as informações desta reportagem foram apuradas e publicadas originalmente pelo jornalista Alcyr Netto, do Marília Notícia, veículo do qual este conteúdo foi extraído.