Fabianny Andrade, uma micropigmentadora há muitos anos, tem se destacado em Sorocaba, Marília e região por seu trabalho voluntário dedicado a mulheres que passaram por câncer de mama e reconstrução mamária.
Mais do que um procedimento estético, sua atuação é um símbolo de recomeço para essas mulheres, trazendo de volta a autoestima e a sensação de normalidade, através da reconstrução de aréolas com mastopigmentação, técnica que ela desenvolveu ao longo de sua carreira.
O projeto nasceu em um tempo em que as redes sociais ainda engatinhavam. “Nem tinha Instagram”, lembra Fabianny, quando foi convidada a participar de uma mobilização nacional de micropigmentadores. Através de uma comunidade no Facebook, ela assumiu a coordenação do projeto “Amigos do Peito” em Sorocaba e organizou um mutirão de voluntários para atender gratuitamente pacientes que necessitavam de mastopigmentação paramédica, especialmente mulheres que haviam passado pela reconstrução das mamas.
O primeiro mutirão, realizado no salão onde Fabianny trabalhava, foi desafiador. Apesar da expectativa de uma grande mobilização de profissionais e mídia local, muitos dos que prometeram apoio não compareceram. Mesmo assim, com apenas três micropigmentadoras e a solidariedade das colegas do salão, que suspenderam seus atendimentos e passaram a cuidar das pacientes com serviços de beleza gratuitos, o evento foi um sucesso. Esse esforço coletivo acabou marcando o início do “Amigos do Peito”, um projeto que, desde então, realiza um mutirão anual em Sorocaba, agora com apoio de artistas e cobertura da mídia.
Quando Fabianny se mudou para Marília, ela percebeu a necessidade de continuar com o projeto, apesar da dificuldade inicial em encontrar apoio. Ela começou a perguntar em hospitais e clínicas locais se havia demanda para pacientes de câncer de mama, e aos poucos, médicos passaram a indicá-la. O processo de reconstrução da aréola, que Fabianny realiza, é conhecido como mastopigmentação, uma técnica que mistura arte e técnica médica para desenhar a aréola com realismo.
Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não reconheça esse tipo de procedimento como uma necessidade básica, o trabalho de Fabianny tem ganhado respeito e apoio da comunidade médica, que entende a importância da técnica para a recuperação emocional e física das pacientes.
“O câncer não dá só em outubro”, enfatiza ela, explicando que as indicações para o procedimento chegam o ano todo, e o único pré-requisito que exige das pacientes é uma liberação médica, para garantir que o procedimento seja seguro.
IMPACTO
O trabalho de Fabianny vai muito além de uma simples sessão de micropigmentação. Para muitas mulheres, a reconstrução da aréola é o fechamento de um ciclo doloroso, marcando o fim de um longo processo de cirurgias, tratamentos de quimioterapia e reconstrução física.
Fabianny já atendeu mais de 200 pacientes ao longo dos anos e lembra com carinho de cada uma delas. Ela chama o procedimento de “a cereja do bolo”, um gesto final que devolve às mulheres a sensação de completude.
Além da mastopigmentação, o “Amigos do Peito” envolve doações de perucas, lenços e turbantes para as pacientes em tratamento de quimioterapia. “Muitas não gostam da peruca, mas os lenços e turbantes ajudam muito”, comenta Fabianny. As doações de cabelo, enviadas para uma ONG que confecciona perucas, também fazem parte do projeto, junto com os pequenos mimos, como bonequinhas e presentes feitos por voluntárias, que são entregues às pacientes.
O voluntariado é algo intrínseco à personalidade de Fabianny, e ela vê o “Amigos do Peito” como uma extensão de sua vontade de ajudar. “Você tem que tirar do seu? Tem. Mas voluntariado é uma coisa que sai de dentro. Não é só pra sair em foto”, reflete. A satisfação de ver o impacto de seu trabalho na vida das mulheres é o que a motiva a continuar.
No dia 20 de outubro, o projeto realizará seu 13º mutirão em Sorocaba, e Fabianny viajará para lá, como faz todos os anos, para ajudar. Ela espera, no futuro, conseguir consolidar o projeto também em Marília, com mais apoio e divulgação, levando esperança e reconstrução para ainda mais mulheres.
O “Amigos do Peito” segue, assim, como um exemplo de solidariedade e resiliência, provando que a mastopigmentação não é apenas uma questão estética, mas uma verdadeira ferramenta de transformação de vidas.