Geral Homenagem
O Val que poucos conheceram
Veja artigo do escritor garcense André Eitti Ogawa sobre o delegado e membro da família Valdir Tramontini
21/06/2024 10h48
Por: Francisco Alves Neto Fonte: da redação

Todos que conheceram o Valdir Tramontini, seja pela sua atuação como delegado ou como jogador de futebol suíço ou master, receberam com grande alegria a notícia da inauguração do complexo esportivo e de lazer com seu nome, no último dia 26 de maio. Não é pra menos, Valdir foi um ícone no exercício de sua profissão e nos campos teve atuação marcante desde a juventude. De modo que, a homenagem, além de celebrar a grande pessoa que o Valdir foi, é também bastante justa.

Valdir era figura pública. Quando atuou profissionalmente em Garça, estampava os jornais da época com certa frequência, e a sua imagem ficou muito associada à ideia de efetividade da segurança pública. De forma caricatural, era como se ele fosse o xerife da cidade. Quem o conhecia bem sabe que, de vez em quando, ele incorporava essa aura até nos momentos familiares mais íntimos. Por bem ou por mal, de forma direta ou de ouvir falar, Valdir se tornou amplamente conhecido. Mas, pouca gente conheceu mesmo o Val. Pra nós, que éramos familiares, o Dr. Tramontini era simples e afetuosamente Val, o primo, sobrinho, neto que se foi de maneira prematura e deixa muita saudade.

O Val chegou na família nos anos 1990. Lembro de uma das primeiras festas de Ano-novo que passou com a gente. Na época batíamos uma bola no dia 30 ou 31 de dezembro, um jogo muito esperado de tios versus sobrinhos. O Val jogou no time dos sem-camisa (tios), descalço, e lembro do seu primeiro lance ser uma sobra de bola que ele chutou muito forte e, também, muito longe do gol, na “fazenda”, como os boleiros brincam. Não me lembro quem ganhou aquele jogo, mas está claro que foi um momento bem divertido.

Depois que crescemos e o futebol começou a ficar competitivo demais (e perigoso), passamos a pescar no final de ano. Enchíamos 4 ou 5 carros e passávamos a tarde em algum pesqueiro da região, assando carne, bebendo, conversando. Lembro que o Val pegou gosto pela pescaria. Não era uma atividade que dominava como nos campos de futebol, mas em pouco tempo aprendeu e virou um especialista em pegar tilápia com a varinha de mão. Claro, sendo o Val, esse aprendizado o fez sentir o rei da pesca, mas a gente sabia do seu jeito e nunca fizemos nada pra que ele se sentisse menos que isso.

Quando a pescaria de final de ano enjoou, iniciou-se uma fase mais caseira, em que a maioria era formada por adultos que preferia mesmo é ficar junto, comendo, bebendo, cantando, interagindo. O Val gostava de bater papo, conseguia circular pelas várias rodinhas de conversa da família. Sempre tinha um causo sério ou engraçado pra contar. Nutria muito carinho pela minha avó, tirava selfies com ela. Por meu avô, demonstrava muito respeito. Chamava-o de ditchan – avô em japonês – assim como todos os outros netos e agregados. Ajudava a fazer as preparações de comida, carregar as coisas pra lá e pra cá. Às vezes pegava o microfone do videokê, encenava uma palhaçada, fazia o povo rir. Quando tinha dança, dançava. Na hora da piscina, nadava; do carteado, jogava. Quando dava sono, dormia, roncava. Na família, o Valdir dos noticiários e das manchetes flutuava como a mais leve pluma.

Quando as autoridades nomeiam ruas, praças, locais públicos com nomes de personalidades, a ideia é eternizar a memória delas, pra que nunca sejam esquecidas. Isso não é apenas um detalhe, afinal de contas, o tempo muitas vezes, joga a favor do esquecimento. Com o complexo esportivo e de lazer, o Valdir sempre será lembrado por todos. Pra família, o Val, que já era eterno, agora é mais orgulho.

 

André Eitti Ogawa é escritor garcense. Seu livro de poemas, “Com calos pisados eu danço”, já está à venda. Siga no Instagram para saber mais: @andreeittiogawa. Contato: ogawa.andre@yahoo.com