O Nono Domingo Comum nos apresenta o Domingo, dia do Senhor e dia para o homem encontrar seu verdadeiro sentido. Retomamos a segunda parte do Tempo Comum, em que traremos a meditação semicontínua do Evangelho de Marcos e da Segunda Carta de São Paulo aos coríntios.
O Livro de Deuteronômio (5,13-15) lembra a ordem emanada por Deus para descanso semanal. Para Israel, a observância do sábado era considerada como a mais sagrada de todos os preceitos do decálogo. O repouso sabático tinha três significados religiosos profundos. Primeiro, era o dia de repouso, sinal de libertação: Israel devia interromper o trabalho no sábado para lembrar-se de que foi libertado dos trabalhos forçados do Egito. Depois, o repouso como participação no repouso de Deus, na criação. É um sinal de que nos sentimos filhos de Deus. E, por fim, um repouso para Deus. “Mas o sétimo dia é o sábado para o Senhor teu Deus”. Não é prescrição legal, mas exigência de diálogo entre Deus e o seu povo. Mas com o passar do tempo, perdeu o sentido religioso e tornou-se apenas uma série pesada de prescrições e proibições. Tornou-se sinal de uma nova escravidão e um culto formalista e exterior. Jesus precisava corrigir essa mentalidade rígida e legalista.
Na Carta de São Paulo aos Coríntios (4,6-11), o apóstolo recorda que a vida se manifesta em meio às ameaças de morte. É um verdadeiro autorretrato do agente de pastoral, que deve viver segundo o Domingo. Para isso, deve haver nele a Luz de Deus, o agente deve irradiar a Luz de Cristo. Ser portador da Luz em vasos de barros, tendo consciência de sua fragilidade e das incompreensões, ter a humildade. Ser anunciador aos crucificados, viver a loucura da cruz. Anunciar Jesus é denunciar os crucificadores de hoje. “A verdade se levanta contra si a tempestade que espalha sementes dela em todo lugar” (Tagore). Viver segundo o Domingo é irradiar a Luz de Cristo, ser semeador da semente do Evangelho, que é mais forte que a morte.
No Evangelho de Marcos (2,23-3,6), Jesus interpreta o verdadeiro sentido do Sábado. Isso aparece em dois episódios. Na primeira cena, os discípulos colhem e comem espigas de trigo num sábado, porque tinham fome. A reação dos judeus foi de desaprovação. Mas Jesus ensina que a vida está acima da lei. Na segunda cena, Jesus cura o homem da mão seca num sábado na sinagoga. A reação dos fariseus foi legalista, sem se importar com a vida humana. Jesus pergunta: “É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixá-la morrer?” (v.3,4). E, transgredindo a lei do Sábado, cura o doente, para mostrar que toda lei deve estar a serviço da vida humana e do bem comum e não o ser humano ser escravo das leis. E justifica: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (v.2,27). Afirma assim o primado da misericórdia sobre as exigências da Lei e o primado da consciência sobre a regra, do homem sobre a Lei. O sábado e a própria lei estão subordinados ao bem do homem. O Sábado torna-se até um dia privilegiado para fazer o bem.
Mas por que os cristãos guardam o Domingo? Os primeiros cristãos vindos do judaísmo, no começo observavam o sábado, mas se reuniam para a “fração do pão” no primeiro dia da semana, o “Dia do Senhor” (Dies Domini). Assim, aos poucos o sábado foi substituído pelo domingo, dia em que Jesus ressuscitou. O Domingo não deve ser visto apenas como uma prática obrigatória, mas como um memorial da libertação trazida pela ressurreição de Jesus Cristo. Santificar o dia do Senhor não significa ficar sem fazer nada, mas ocupar-se de coisas que nos identificam com Deus e utilizar as horas desse dia para o louvor do Senhor, tanto por palavras, como por gestos e atitudes. E isso não se reduz a ir à missa.
Como viver o Domingo? O verdadeiro Domingo se celebra de três maneiras. Primeiro, é o dia da participação consciente na Eucaristia, dia de se reunir na Igreja para louvar e bendizer Cristo, nosso Deus. Constitui uma ocasião para os cristãos se recuperarem e enriquecerem as forças interiores e espirituais. Ir a Igreja aos domingos, para meditar a Palavra de Deus e comer do Pão Eucarístico é entrar de novo em si mesmo, tomar consciência da própria situação interior, confrontar-se com a Palavra de Deus, encontrar-se com a pessoa do Cristo no sacramento. Tudo isso dá ao domingo e à semana toda, um sentido de força, tornando o ser humano senhor de si mesmo e devolvendo-lhe as rédeas que talvez lhe tenham fugido das mãos. A missa dominical constitui, portanto, o ponto de chegada da semana que passou e de partida para a sucessiva. É um acontecimento divino e humano, que levanta o tom da vida.
Depois, o Domingo é o dia do encontro Familiar e Fraterno e dia da Caridade. Encontrar-se com as pessoas na Igreja aos domingos é criar laços de fraternidade, gerar união e amor. E essa fraternidade em torno da mesa eucarística deve projetar-se também fora da igreja. A família encontra unidos todos os seus componentes que durante a semana não podem se encontrar pela diversidade de horários. A caridade cristã se estende também para fora da família nas obras de misericórdia para com os pobres e mais necessitados.
E por fim, o Domingo é o dia do lazer e do descanso. Aquela alegria dos batizados que são ressuscitados com Cristo, destinados a uma eternidade de alegria numa festa eterna, deve ser realidade dominical no encontro com os amigos, na alegria e na descontração familiar. Há uma significativa diferença entre o sábado hebraico e o domingo cristão. O sábado concluía uma semana, era um fim. O Domingo, ao contrário, abre a semana, é um início.
E o nosso Domingo, como vai? É de fato um dia santificado, fonte de alegria, de liberdade, de comunhão com Deus e com os irmãos, ou uma mera observância externa, um costume? Sobra mais tempo para quem? Para a família? Para a comunidade-igreja? Para a oração, para o culto a Deus? Para a caridade? É um dia de descanso? Para que? O nosso domingo é de fato o “Dia do Senhor”? Ou apenas o dia do futebol, do namoro, da Televisão e mídias da internet, dos negócios, do lazer, ou das festinhas para comer e beber?
Finalizo recordando um ditado cristão: “Domingo sem missa, semana sem graça”. O cristão é chamado viver sua vida segundo o Domingo. Pois o Domingo pode ser para todos um feriado semanal, e de fato é o dia de alegria e descanso, mas para quem encontrou Jesus é mais. É dia por excelência de celebrar a sua salvação e alimentar do seu Evangelho.
Pe. Anderson Messina Perini
Administrador Paroquial da Paróquia Jesus Bom Pastor de Santo André